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Música do Brasil

Música do Brasil

Entrevista a Paulinho Moska: O contrasenso (im)perfeito

As duplas são eternas na música popular brasileira. Paulinho Moska e Chico César apresentaram em Portugal uma mostra do tamanho do imenso Brasil musical. Um do Rio de Janeiro, o outro da Paraíba. Cruzamentos musicais, linguagem proto-moderna, não-movimentos, e outras tantas dissertações na voz do carioca Paulinho Moska.

Famalicão, Lisboa e Alcobaça. Três destinos que receberam a dupla de músicos brasileiros. Foram Moska e César, mas podiam ter sido tantos outros. A diversidade, segundo Moska. «O Brasil é um território muito grande. É um local onde conflui o branco europeu misturado com o índio e o negro arrancado de África. Nessa mistura há uma sensualidade e diversidade tropical. Logo a música brasileira é um reflexo disso mesmo. Não é uma coisa só. É uma forma de expressão em que é fundamental comunicar entre as diferenças. Há uma necessidade de ser múltiplo. A história da música brasileira também teve os seus artistas mais concentrados no seu gueto. Depois teve artistas de diferentes lugares como Lenine, Zélia Duncan, Fernanda Abreu, Bebel Gilberto, Celso Fonseca, entre tantos outros. Esses foram mexidos com a electrónica dos anos 90, sem deixarem de ser os compositores tradicionais. Não virou um momento. Não havia um manifesto, que é algo sempre unificador e castrador. Foi um não-momento sem regra».

«Zoombido» é o nome do programa de televisão que Moska apresenta e pensa no Canal Brasil. O cruzamento referido é o ponto de partida do momento televisivo. «Vivo um momento privilegiado com o programa de televisão. Tenho recebido muitos compositores. Tenho observado muitos métodos de criação. Em 78 programas recebi muitos artistas mas ainda faltam alguns muito importantes como Caetano Veloso e Chico Buarque. Gostaria de poder receber Raul Seixas, Cazuza e Renato Russo, que foi o grande príncipe da música brasileira, quase um Bob Dylan, com sua mágica e um grande letrista».

Paulinho Moska é um arquitecto das palavras. Filho de jornalista, o carioca gosta de as cruzar, destruir, erguer significados, implodir regras sintácticas. «Com as palavras há sempre muito que fazer. Esta viagem a Portugal vai ao encontro da poesia pura. A observação da utilização do gerúndio no Brasil. Vamos cantando, dançando. Em Portugal existe mais um tempo presente, embora o gerúndio também seja esse presente que lança para o futuro. Sinto que falta uma eternidade de coisas para serem ditas e escritas. A língua portuguesa até na Índia se fala. Tem um potencial muito grande para a poesia. A língua tem uma existência temporal e só existe se for falada, desenvolvida e evoluída. O português tem um futuro muito grande. A sua diferença gera qualidade. Estamos num ponto de mutação muito grande. A realidade exige um olhar multidisciplinar».

O compositor reflecte sobre a diversidade na sua própria arte. Do rock iniciático ao samba da última gafieira. Paulinho Moska sempre em busca do «contrasenso» (sem hífen, que a poesia a gente inventa). «É a simplicidade que busco. Sempre pensei em coisas complexas. O Zoombido ajudou-me na busca da singularização da canção. Como que um retorno às canções simples. E tenho deixado esse lado sair. Tive uma educação de história de arte. Para mim arte é para ser levada a sério e também dever ser divertida enquanto prática. Dançando com as forças do acaso. Por exemplo, a poesia escrita de há 200 anos agora é vivida. Comunicar através de um telemóvel e poder ver a outra pessoa pode ser entendida como a poesia antiga em que se escrevia uma carta e demorava uma eternidade para chegar. Agora estamos a vivenciar essa vontade imediata».

Fonte: Disco Digital

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