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Música do Brasil

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Cachorro Grande explora rock diferente em CD

Grupo gaúcho lança seu quinto disco em dez anos de banda

 

Com dez anos de banda nas costas, os gaúchos do Cachorro Grande lançam seu quinto disco, Cinema, apostando no bom e velho rock, mas com um olhar virado para outras influências que não entraram nos álbuns anteriores.

 

» Ouça Cachorro Grande

 

Em entrevista ao Terra, o vocalista Beto Bruno e o guitarrista Marcelo Gross falaram de Cinema e explicaram onde foram buscar suas influências e como lidam com o fato da cena roqueira brasileira não ser muito valorizada.

"A gente sempre gostou de fazer esse tipo de rock e não vamos colocar um solo de berimbau ali para falar que somos brasileiros. A gente já canta em português. Me sentiria um bobo cantando em inglês no nosso País", diz o vocalista.

 

Confira a entrevista:

Como foi a gravação do álbum?
Beto - Gravamos em Porto Alegre em um estúdio que possibilitou que a gente gravasse junto em uma sala. Lá ainda é a nossa cidade.

Marcelo - Lá a gente podia ficar sossegado, podíamos fazer várias sessões durante a madrugada. A gente gravou também tudo em fita de duas polegadas. É um dos poucos estúdios que funciona assim. Para essa sonoridade do rock é ideal.

E vocês tiveram mais tempo para trabalhar as músicas?
Beto - Não. Aí que está a loucura. Tivemos vinte dias de gravação em Porto Alegre. Os outros discos sempre passaram de um mês. A gente tava no final da turnê e teve dias que a gente saiu do estúdio e foi tocar em alguma cidade de madrugada e já voltava pra gravar.

E no meio das gravações você ainda foram pegos de surpresa com o convite para abrir o show do Oasis...
Beto - A parte de Porto Alegre já estava pronta. Eu deixei pra fazer algumas vozes no Rio e nesse meio tempo ligaram pra gente avisando dos shows, ainda por cima no 1º de Abril. Cheguei abalado, chegou outra pessoa lá. O próprio disco deles influenciou muito o nosso, mas abrir o show deles foi uma coisa que nunca passou pela minha cabeça. Foi a semana de um sonho que rolou. Não tenho vergonha de babar ovo neles.

Cinema tem uma pegada diferente dos outros álbuns do Cachorro Grande. O que mudou?
Marcelo - Acho que foi um resgate de uma coisa que a gente ouvia na adolescência e não tinha deixado prevalecer no nosso som. Rock dos anos 70, Pink Floyd, Led Zeppelin e o space rock. Um som mais atmosférico.

Beto - A gente estava nessa onda do space rock. É a fase entre a psicodelia, grupos que voltavam ao rock e não tinham entrado no progressivo.

Vocês se sentem mais confortáveis para trabalhar essas influências diferentes?
Beto - A gente não se considera nada consolidado. Estamos sempre beirando ali e ouvindo as pessoas falando "essa banda vai estourar". Nesse meio tempo já foram dez anos e cinco discos. Quando a gente junta eles a gente pensa que deve ter um crescimento. Ser diferente entre eles, mas a gente deve gostar do resultado final.

Vocês sentem que esse tipo de rock acaba sendo desvalorizado pelo público brasileiro?
Marcelo - Só dão valor para quem tem alguma coisa de brasilidade da música e julgam que isso é original. Para eles, o rock inglês com letra em português não tem como ser original. Porque não tem nada a ver com Chico Buarque, com a bossa ou o samba.

Beto - A gente sempre gostou de fazer esse tipo de rock e não vamos colocar um solo de berimbau ali para falar que somos brasileiros. A gente já canta em português. Me sentiria um bobo cantando em inglês no nosso País. Não dá pra dizer que o público em geral é bobo. Se fosse assim, essas bandas bobinhas assim com carreiras meteóricas não seriam sumido. O público não se deixa enganar por muito tempo e sabe separar o que é verdadeiro.

E o rock nacional, como anda o cenário?
Beto - Não é muito diferente das outras épocas. É que nem nas outras épocas. Na década de 60 e 70 tinha o Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Mutantes e um monte de coisa que saiu junto e não era boa. Nos anos 80 que surgiu o título.

Marcelo - Foi ali que o rock teve seu auge como música popular. Nessa época ele era popular, mas era rebelde.

Beto - A diferença é que aqueles caras estavam em cima do palco porque amavam música. Hoje acabam saindo grupos "Frankstein" porque querem fazer sucesso e acham que a música é um veículo. Eles não estão ali pela música. É só ouvir o Skank e ver a carreira deles. Você tem alguma dúvida que eles gostam de música? Mas em geral está uma merda, a cena toda que está aí é medíocre e não sei se eles estarão aí no ano que vem.

O Dia do Rock, comemorado em 13 de julho, está chegando. Temos motivos para comemorar a data?
Beto - Mundialmente com certeza. Eu acho que o rock é a música mais universal que existe. Nos anos 50 os brancos estavam dançando música de negro. No Brasil também vale pela luta que as bandas daqui fazem para viver. Hoje não é a música mais popular aqui e é válido pelas lutas que todos têm.

Marcelo - Pra mim todo dia é dia do rock.

 

Fonte: Terra Música