São A Banda Mais Bonita da Cidade e a mais simpática, descontraída e feliz também, certamente. Aterram em Portugal, diretamente do sudeste brasileiro, nos primeiros dias de dezembro, para três atuãções - a primeira das quais em Lisboa, no âmbito do Vodafone Mexefest. Na bagagem trazem o álbum de estreia, acabadinho de gravar, responsável pelo mega êxito Oração, "um verdadeiro inferno", que deixou, aquando da publicação do seu videoclip, todo o Brasil de sorriso rasgado no rosto. Não dispensam o contato com os fãs, que lhes financiaram e alinhavaram o primeiro disco, e são fãs assumidos de Ornatos Violeta, dos quais elegem o tema Capitão Romance. Prontos para saber mais sobre a banda mais «acidental» de sempre?
Palco Principal - Como e quando surge A Banda Mais Bonita da Cidade?
Uyara Torrente – A Banda Mais Bonita da Cidade surge em 2009, entre amigos. Não era nossa intenção formar uma banda profissional, mas sim reunirmo-nos, tocar umas músicas que todos gostássemos e, acima de tudo, divertirmo-nos. Nunca houve qualquer seleção, nunca as aptidões de ninguém foram testadas, apesar dos «meninos» serem mega competentes e tocarem super bem.
PP – Formaram-se em 2009, mas só em 2011, após a publicação do videoclip de Oração no Youtube, alcançaram o reconhecimento do público brasileiro em geral. Como foi, de um momento para o outro, lidar com uma enorme visibilidade, instantânea e inesperada?
UT – Como disse, nós não tínhamos grandes pretensões. Eu trabalhava como atriz e os «meninos» tinham os projetos deles. Amávamos muito a banda, mas ela era, para nós, um refúgio, quase um lugar de descanso. Podermos passar, de um momento para o outro, a dedicarmo-nos só à banda é muito gostoso, podermos investir, única e exclusivamente, em algo que todos gostamos foi uma surpresa, uma surpresa boa. Tivemos que abandonar os nossos projetos anteriores, é claro. Qualquer coisa que não fosse relacionada com a banda teve que ser bloqueada. Por exemplo, eu tive que ser substituída em algumas peças e os «meninos», que trabalhavam em estúdio, tiveram que pedir dispensa. Graças a Deus, os chefes não colocaram qualquer problema, todos nos felicitaram a deram super apoio. De repente, o meu facebook lotou. Passámos a receber muito, muito, muito feedback das pessoas, que faziam questão de dar a sua opinião. Passámos, também, a ser reconhecidos na rua, no aeroporto, o que gera situações engraçadas, como quando nos pedem para tirar fotografias. Na verdade, a nossa rotina mudou muito. O primeiro mês, principalmente, foi louco, emagrecemos todos devido à ansiedade. Foi muito maluco, mas todos lidámos bem com a situação.
PP - Como «resposta» ao sucesso do vosso vídeo, surgiram na Internet várias paródias, entre as quais, “A Banda Mais Bonita da Internet”. Lidam bem como todo esse movimento?
UT – Na verdade, achamos super divertido essa coisa das paródias! Imagina: num dia, fazes um vídeo como quem não quer nada; no outro, as pessoas dão-se ao trabalho de falar e fazer paródias sobre isso. Isso só pode ser um bom sinal! É sinal que afetámos as pessoas, seja positiva ou negativamente. Se virmos bem, as pessoas pararam pelo menos cinco minutos do seu dia para se dedicar, de certa forma, a nós.
PP – Mas, afinal, como se dá o encontro entre o tema Oração, originalmente composto por Leo Fressato, e A Banda Mais Bonita da Cidade?
UT – Conheci o Leo na faculdade. Sempre gostei muito do trabalho dele, é lindo! Até que um dia ele me mostrou essa música. Estávamos, penso eu, em 2007. A música é um verdadeiro inferno, ela não sai, simplesmente, da cabeça. Fiquei mesmo muito «ligada» na música e, um dia, resolvi mostrá-la para a «galera» da banda. A Oração é, para mim, uma espécie de mantra, mexe muito comigo, dá-me uma sensação boa, e só me apetece repeti-la vezes sem conta. Além do mais, é uma música que vai crescendo, que vai «endoidando», é a típica música de final de «show». Um dia, resolvemos experimentá-la em palco, num teatro. Foi super «legal», mas optámos por não voltar a tocá-la, pois tínhamos outras músicas mais «engatilhadas». Mas, quando começámos a falar em gravar um vídeo, pensámos logo nela. Era nossa intenção ter gravado no final de 2010, de forma a oferecermos o vídeo como presente de Natal para as nossas famílias e amigos. Só que no dia em que era suposto termos gravado, choveu muito e não foi possível avançarmos com a ideia. Passámos todos o fim de ano frustrados, claro está. Quando regressámos a Curitiba, retomámos de imediato a ideia, sendo que uma amiga nossa disponibilizou uma casa bonita, centenária, para o efeito. Decidimos, então, fazer um plano sequência. A ideia era irmos passando de divisão em divisão e, à medida que mudássemos de divisão, a música ia crescendo. E pronto, quando «botámos» o vídeo no ar, aconteceu toda esta maluquice!
PP – Nunca recearam serem uma banda de One Hit Wonder, isto é, serem eternamente reconhecidos por essa música, não voltando a conquistar igual sucesso com qualquer outra?
UT – Nem por isso, até porque, para nós, foi tudo lucro! Esperávamos tão pouco… Além disso, sempre soubemos que tínhamos um bom repertório e que, a partir do momento em que as pessoas conhecessem os nossos outros temas, iriam sentir-se afetadas, tal como se sentiram com a Oração. E assim foi: a partir do momento em que «estourou» a Oração, os nossos outros vídeos começaram a ganhar muitas visualizações. Quando fizemos o nosso primeiro «show» em São Paulo, as pessoas já sabiam todo o nosso repertório, foi muito impressionante! Ou seja, nunca chegámos a ter esse medo, até porque não houve tempo para tal. Só agora acabámos de gravar o disco!
PP – O vosso disco já chegou às lojas do Brasil?
UT – Para já, só às lojas virtuais. A edição física só chegará às nossas mãos quando regressarmos ao Brasil, depois dos concertos em Portugal.
PP – Optaram por uma edição independente, certo? Porquê?
UT – Sim, optámos por um sistema sobre o qual já falávamos mesmo antes deste boom acontecer, que se chama Sistema de Financiamento Coletivo. Quando a Oração «estourou», fomos contactados por várias editoras, praticamente todas aqui do Brasil entraram em contacto connosco. Mas, estando numa gravadora, teríamos que seguir algumas regras de mercado e nós não estávamos dispostos a isso. Era essencial afirmarmo-nos pela autonomia. Seria muito difícil para nós ter na equipa alguém a dizer-nos o que fazer. Queríamos ser independentes, ter total autonomia sobre o nosso trabalho. Seria muito duro e muito triste para nós abrirmos, neste momento, espaço para pessoas ou coisas que não nos pertencem verdadeiramente.
PP – Correu bem a experiência?
UT – Sim, em quatro dias arrecadámos o dinheiro suficiente, mais até. Pedimos cerca de 48 mil reais e conseguimos um pouco mais do que 50! Podia ter corrido mal, mas «rolou» da melhor maneira. E o processo de gravação também foi muito rápido, demorámos cerca de um mês, e ficámos muito satisfeitos com o resultado final. Acho que é um disco que retrata muito bem o nosso momento. A crítica também tem sido generosa, logo estamos muito contentes, até porque foi tudo feito por nós. Os «meninos» são todos formados em produção sonora, foram eles que se responsabilizaram por todo o processo.
PP – Além de contribuírem monetariamente, os fãs também ajudaram na escolha do alinhamento do disco…
UT – Sim. Para entrar no disco, cada música tinha que conquistar determinado valor, e eram os fãs que escolhiam para que músicas queriam direcionar o seu dinheiro. Oração foi a primeira a estar garantida no disco, claro. Acabámos por conseguir «fechar» 11 das 12 músicas que tínhamos colocado online. E depois gravámos uma 12ª música, em jeito de agradecimento.
PP – A maioria dos temas que compõem o álbum são versões de autores e compositores vossos amigos, de Curitiba. Preferem a desconstrução de temas à construção de raíz?
UT – Sim, gostamos de ouvir a música, desconstrui-la e dar-lhe a nossa versão. É como uma brincadeira para nós.
PP – Não há, no disco, espaço para temas inéditos?
UT – De certa forma, acabam todos por ser inéditos, na medida em que os nossos amigos são artistas independentes, sendo que a maioria deles nunca editou um disco. Mas sim, há um tema composto pelo Rodrigo, o nosso guitarrista, para a sua antiga banda, que aproveitámos, visto ser a «nossa cara» - é o Aos Garotos de Aluguel.
PP - Estreiam-se nos palcos portugueses em dezembro. Estão entusiasmados?
UT – Até fico com vontade de chorar, quando falo dos concertos em Portugal. O meu irmão mora em Lisboa e é muito raro vermo-nos. Nos últimos cinco anos, penso que só o vi uma vez. É complicado… Então, quando ele me contou, super emocionando, como estava a repercussão da banda em Portugal, eu só conseguia dizer: ‘Meu Deus, como assim? Não acredito!’. Claro que, através do facebook, vamos tendo uma noção da nossa popularidade em Portugal. Recebemos muitas mensagens de Portugal, temos muitos fãs portugueses a implorar pela nossa visita. É uma felicidade imensa saber que conseguimos chegar até aí. E quando nos deparámos com a possibilidade real de ir até aí, bem, foi super bonito! Eu, por exemplo, nunca saí do Brasil! E tenho muita curiosidade em conhecer Portugal! Quando penso que daqui a umas semanas vamos estar aí, só consigo dizer: ‘Meu Deusssssss’!
PP – Estão familiarizados com algum artista ou música portuguesa?
UT – Tem uma música que adoro! O refrão é assim: ‘Eu vi, mas não agarrei…’.
PP – É a Capitão Romance, dos Ornatos Violeta…
UT – Isso! Foi o Rodrigo que ma gravou. Nós queríamos, inclusive, fazer uma versão dessa música nos nossos «shows» em Portugal, mas não sei se vamos conseguir…
PP - O que podemos esperar do concerto no Vodafone Mexe Fest? Vão ser a banda mais bonita do festival?
UT – Não sei se vamos ser a banda mais bonita do festival, mas, com certeza, seremos a banda mais feliz! Estamos a preparar esse «show» com muito carinho, muita felicidade.
Fonte: Palco Principal