Veja os destaques dos 44 discos do cantor, que completa 70 anos em 19 de abril
“Louco por Você” (1961)
É o célebre disco proscrito por Roberto Carlos, que jamais permitiu sua reedição em qualquer formato. Jovem, ele iniciava jornada inseguro e indeciso, ora namorando o rock norte-americano, ora soando como um João Gilberto bem mais ligeiro e diluído. Destaque: “Louco por Você”
“Splish Splash” (1963)
Roberto abraça o rock e a música jovem, e assim começa a adquirir consistência e identidade. O roqueiro rebelde que incendeia comportamentos adolescentes já convive no mesmo corpo com o cantor romântico de baladas como “Na Lua Não Há” e “Professor de Amor”. Destaques: “Parei na Contramão”, “Splish Splash”
“É Proibido Fumar” (1964)
Em seu auge como roqueiro e rebelde, RC se esparrama pela sensualidade (“Um Leão Está Solto nas Ruas”), pelo soul rasgado de dor (“Nasci para Chorar”) e pelo romantismo açucarado (“Rosinha”). Destaques: “O Calhambeque”, “É Proibido Fumar”
“Roberto Carlos Canta para a Juventude” (1965)
O início influenciado pelas vertentes “adultas” da canção de fossa e da bossa nova é rapidamente apagado, e a gravadora CBS (hoje Sony) investe na estratégia, até aqui inédita, de associar a música popular com um movimento essencialmente jovem. Destaques: “História de um Homem Mau”, “Não Quero Ver Você Triste”, “A Garota do Baile”
“Jovem Guarda” (1965)
O tema “juventude” chega ao ápice com o batismo do nome do movimento, jovem guarda, imediatamente aproveitado pela TV Record para titular o avassalador programa dominical apresentado por Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa. A imagem transgressora (como no rock anticasamento “Não É Papo pra Mim”) continua a ser vendida em paralelo com a fofura romântica-juvenil de “Escreva uma Carta, Meu Amor”. Destaques: “Quero Que Vá Tudo pro Inferno”, “Mexerico da Candinha”, “Lobo Mau”
“Roberto Carlos” (1966)
No primeiro disco pós-estouro do programa “Jovem Guarda”, RC soa amadurecido, mas também calcado mais que nunca no imaginário dos Beatles. A capa, na qual posa solitário num fundo negro, imita a de “With The Beatles” (1963), mas transformando em uma só as quatro cabeças da banda britânica. Destaques: “Namoradinha de um Amigo Meu”, “Eu Te Darei o Céu”, “Querem Acabar Comigo”, “É Papo Firme”
“Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1967)
Novamente inspirado nos Beatles, Roberto faz de seu sétimo álbum a trilha sonora e o pano de fundo do filme homônimo, forrado de cores pop, empáfia juvenil, cenas de paquera e perseguições adrenalinadas. Surgem aqui algumas das mais potentes baladas românticas envenenadas do “rei da juventude”: “De Que Vale Tudo Isso”, “Por Isso Corro Demais”, “Você Não Serve pra Mim”. Destaques: “Eu Sou Terrível”, “Quando”, “Como É Grande o Meu Amor por Você”
“O Inimitável” (1968)
O título insinua preocupação com a profusão de clones de RC, mas musicalmente ele atinge novo ápice de segurança e substância. Atento para o desgaste da jovem guarda, Roberto abandonou o programa pouco antes de lançar esse disco, o primeiro fortemente influenciado pela soul music norte-americana. O romantismo já atinge piques mórbidos, nas aparentemente fofas e amorosas “Ciúme de Você”, “Se Você Pensa” e “É Meu, É Meu, É Meu”. Destaques: “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”, “As Canções Que Você Fez pra Mim”
“Roberto Carlos” (1969)
No primeiro de uma longa série de discos sem título, o artista ilustra solidão e tristeza na capa em que repousa abandonado numa praia vazia e, principalmente, em algumas das baladas mais desesperadas de sua história. Amplificando a linha soul que domina o disco, RC lança Tim Maia, autor do funk da pesada “Não Vou Ficar”. Destaques: “As Curvas da Estrada de Santos”, “Sua Estupidez”, “As Flores do Jardim de Nossa Casa”
“Roberto Carlos” (1970)
O desespero do disco anterior se aprofunda em seu último álbum calcado na soul music – a faixa “120... 150... 200 Km por Hora” chega a fazer leve insinuação suicida. Em contraponto, aparece pela primeira vez a veia religiosa do artista, no eloquente hino gospel “Jesus Cristo”. Destaques: “Meu Pequeno Cachoeiro”, “O Astronauta”, “Ana”
“Roberto Carlos” (1971)
Inicia-se a maior transformação de identidade da história do artista. RC abandona as personas de roqueiro rebelde e baladeiro soul (resiste apenas o incisivo soul-rock semi-religioso “Todos Estão Surdos”), rumo à construção do ícone romântico por excelência, inspirado na grandiloquência musical de cantores como Frank Sinatra. “Detalhes” surge como paradigma maior do maior dos românticos brasileiros. Destaques: “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, “Amada, Amante”, “Como Dois e Dois”
“Roberto Carlos” (1972)
Já a partir da expressão facial da capa, RC investe na melancolia e no desamparo com os quais qualquer brasileiro médio se identificará profundamente. Sem resquícios de rock ou soul, predominam os temas de comportamento – notadamente conflitos familiares e rupturas conjugais, em “Quando as Crianças Saírem de Férias”, “À Distância...” e “À Janela”. Destaques: “O Divã”, “A Montanha”, “Como Vai Você”
“Roberto Carlos” (1973)
Ao romantismo já habitual, RC soma o afago à alma romântica latino-americana: a partir da releitura de “El Dia Que Me Quieras”, de Carlos Gardel, a maioria de seus próximos discos incluirá uma faixa interpretada em espanhol. Destaques: “O Homem”, “A Cigana”, “Proposta”
“Roberto Carlos” (1974)
Mensagens de positividade e religiosidade falam alto aqui, em “É Preciso Saber Viver” e, sobretudo, em “Eu Quero Apenas”, o clássico no qual RC avisa que “eu quero ter um milhão de amigos/ e bem mais forte poder cantar”. Destaques: “O Portão”, “Despedida”
“Roberto Carlos” (1975)
O porta-voz do otimismo dá ares pacifistas a “O Quintal do Vizinho”, e RC toma a atitude incomum de gravar compositores da MPB (em “Mucuripe”, de Fagner e Belchior). “Seu Corpo” dá solidez a uma nova e produtiva vertente, das canções sensuais-sexuais. Destaques: “Além do Horizonte”, “Olha”
“Roberto Carlos” (1976)
“Os Seus Botões” é a canção sensual histórica num disco que, de resto, volta a flertar com o rock, naquela que é talvez a última canção rebelde de RC, “Ilegal, Imoral ou Engorda”: “Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?”, protesta o narrador. Destaques: “O Progresso”, “Você em Minha Vida”, “Um Jeito Estúpido de Te Amar”
“Roberto Carlos” (1977)
Momento de ápice do Roberto Carlos romântico-sensual, esse disco conta com os clássicos “Cavalgada”, na vertente sexy, e “Outra Vez”, na linha das canções torturadas de abandono amoroso. Destaques: “Amigo”, “Falando Sério”, “Jovens Tardes de Domingo”, “Muito Romântico”
“Roberto Carlos” (1978)
A safra religiosa (“Fé”), a sexual (“Café da Manhã”) e a familiar (“Lady Laura”, dedicada à mãe) se somam e convivem harmoniosamente, constituindo um tripé de sustentação da popularidade crescente de RC. Destaque: “Força Estranha”
“Roberto Carlos” (1979)
A homenagem familiar da vez é ao pai, em “Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo”. “O Ano Passado” integra a linha do protesto ecológico. Destaques: “Abandono”, “Na Paz do Seu Sorriso”, “Costumes”
“Roberto Carlos” (1980)
O sucesso e o poderio do “rei” atingem ápices históricos nessa virada de década, acompanhando e conduzindo o crescimento vertiginoso do mercado fonográfico como um todo. No campo musical, o tom épico de “A Guerra dos Meninos” simboliza a hipertrofia. Destaques: “Amante à Moda Antiga”, “Não Se Afaste de Mim”
“Roberto Carlos” (1981)
Esse disco demarca recorde comercial e momento de maior grandiloquência musical de RC, expressa no arranjo épico da balada ecológica “As Baleias” e em mais um clássico absoluto de seu repertório: “Emoções”. Destaques: “Ele Está pra Chegar”, “Cama e Mesa”, “Eu Preciso de Você”
“Roberto Carlos” (1982)
Esse disco sublinha, mais uma vez, os temas de dissolução conjugal, como em “Fim-de-Semana”, sobre um pai separado que tenta aproveitar ao máximo os poucos momentos que passa com os filhos. Pela primeira vez, uma artista da MPB participa de um disco de RC: Maria Bethânia divide com ele a faixa “Amiga”. Destaque: “Fera Ferida”, “Meus Amores da Televisão”
“Roberto Carlos” (1983)
Começa por aqui a ressaca da fúria comercial dos anos anteriores: as baladas românticas de Roberto e Erasmo começam a dar sinais de cansaço. Destaques: “O Côncavo e o Convexo”, “O Amor É a Moda”
“Roberto Carlos” (1984)
O ídolo testa se popularizar ainda mais, namorando o nicho sertanejo em “Caminhoneiro”, na qual traça paralelos entre a própria solidão e a dos motoristas nômades pelas estradas do Brasil. A canção rendeu dissabores: Roberto e Erasmo não perceberam, mas se tratava da melodia de “Gentle on My Mind”, country rock gravado nos anos 60 por Elvis Presley. Destaques: “Coração”, “Eu e Ela”
“Roberto Carlos” (1985)
Movido pelo advento da chamada Nova República, RC surpreende ao arriscar identificar-se com o orgulho de ser brasileiro, em “Verde e Amarelo”. Destaques: “Símbolo Sexual”, “A Atriz”
“Roberto Carlos” (1986)
A vertente ecológica se transmuta em cataclísmica em “Apocalipse”. É desse disco a balada que, retrabalhada nos anos 90 por artistas de pagode e axé music, se tornará um clássico da fase madura de RC: “Amor Perfeito”. Destaque: “Do Fundo do Meu Coração”, “Aquela Casa Simples”
“Roberto Carlos” (1987)
RC mantém padrão de certo desleixo musical e volta a sofrer acusações de plágio, dessa vez por conta de uma canção antidrogas batizada “O Careta”. Destaque: “Tô Chutando Lata”
“Roberto Carlos” (1988)
O desgaste dá a tônica desse período de aparente “piloto automático”, do qual esse disco, juntamente com o seguinte, é exemplo máximo. Destaque: “Se Diverte e Já Não Pensa em Mim”
“Roberto Carlos” (1989)
O “índio” RC adota uma pena pendurada na orelha como parte do visual e volta a investir na brasilidade, na faixa ecológica “Amazônia”. Destaque: “Só Você Não Sabe”
“Roberto Carlos” (1990)
“Por Ela”, versão de sucesso do ídolo latino Julio Iglesias, é o ponto de apoio do disco. Destaque: “Super-Herói”
“Roberto Carlos” (1991)
A primeira eleição direta pós-ditadura e a era Collor repercutem em RC, na balada “Primeira Dama”, que tenta exalar romantismo através de termos emprestados da política. A veia religiosa volta mais explícita que nunca, em “Luz Divina” (“essa luz/ só pode ser Jesus”). Destaque: “Oh, Oh, Oh, Oh”
“Roberto Carlos” (1992)
RC encontra uma nova e eficaz via de comunicação em “Mulher Pequena”, a primeira de uma série de músicas fundadas no elogio aos atributos de personagens marginalizados por características físicas ou sociais. Destaque: “Herói Calado”
“Roberto Carlos” (1993)
“Coisa Bonita (Gordinha)” se dirige com sucesso a outro público minoritário, assim como faz, em outro registro, “O Velho Caminhoneiro”. Destaque: “Nossa Senhora”
“Roberto Carlos” (1994)
Após uma década vacilante, RC exibe-se revigorado por um disco de produção mais esmerada, fruto de uma vantajosa renovação de contrato com a Sony Music. “O Taxista” é a canção feita para fortificar laços entre “rei” e fãs marginalizados. Destaques: “Alô”, “Quero Lhe Falar do Meu Amor”
“Roberto Carlos” (1995)
As mulheres que usam óculos são o público-alvo estigmatizado da vez. Destaque: “O Charme dos Seus Óculos”
“Roberto Carlos” (1996)
Sob impacto do sucesso mercadológico do padre-cantor Marcelo Rossi, “O Terço” carrega nas tintas religiosas. A minoria afagada é a das mulheres maduras. Destaques: “Mulher de 40”, “Cheirosa”
“Canciones Que Amo” (1997)
Primeiro álbum com título em 30 anos, marca também uma novidade temática: é CD apenas de intérprete, devotado a repertório latino-americano. Perdida ali no meio há uma música brasileira, “Insensatez”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, “Insensatez”, cantada em espanhol por RC. Destaque: “El Manicero”
“Roberto Carlos” (1998)
Em via-crúcis junto à mulher Maria Rita, diagnosticada com câncer, RC deixa sua produtividade se truncar deste disco em diante. Com apenas quatro faixas inéditas de estúdio, o CD fica inconcluso e é completado por versões ao vivo de sucessos antigos. Destaques: “Eu Te Amo Tanto”, “O Baile da Fazenda”
“Amor sem Limite” (2000)
Com a morte de Maria Rita, 1999 se torna o primeiro ano em que RC não lança disco desde a estreia em 1961. Totalmente impregnado pela memória da mulher, o CD de volta é o primeiro desde 1963 sem Erasmo Carlos como coautor. Destaques: “O Grande Amor da Minha Vida”, “Amor sem Limite”, “O Grude (Um do Outro)
“Acústico MTV” (2001)
Não é o primeiro disco ao vivo de RC (já lançara um em 1988), mas é significativo por marcar o reencontro do artista com arranjos mais orgânicos e delicados de peças históricas de seu repertório. Destaques: “Além do Horizonte”, “Detalhes”
“Roberto Carlos” (2002)
A Sony tapa buraco com mais um ao vivo, maquiado com os chamarizes de uma única inédita gravada em estúdio e duas antigas remixadas, em consonância com a voga de música eletrônica do período. Destaque: “Seres Humanos”
“Pra Sempre” (2003)
A devoção a Maria Rita segue dominando mais uma leva de composições inéditas solitárias: “Acróstico”, “Pra Sempre”, “Todo Mundo Me Pergunta”. Destaque: “O Cadillac”
“Roberto Carlos” (2005)
Após mais um ao vivo em 2004, RC prepara um disco de flerte com a música caipira, incluindo uma versão de “Índia” e a participação de Chitãozinho & Xororó (em “Arrasta uma Cadeira”). Um sucesso de Elvis Presley, “Loving You”, encerra o CD, marcado também pela volta do parceiro Erasmo, em duas novas e duas regravações. Destaque: “Meu Pequeno Cachoeiro”, “A Volta”
“Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim” (2008)
O maior ícone da música (realmente) popular brasileira se encontra com um dos maiores ícones da MPB, para homenagear o maior compositor da bossa nova. Registro ao vivo de um show, o disco abre temporada de silêncio discográfico que se estende até hoje, só quebrada por breves aparições nos álbuns coletivos ao vivo “Elas Cantam Roberto Carlos” (2009) e “Emoções Sertanejas” (2010). Destaques: “Samba do Avião”, “Por Causa de Você”, “Corcovado”, “Chega de Saudade”
Fonte: IG Música