O Monobloco arrastou no último carnaval mais de 400 mil foliões pela avenida Rio Branco, no Centro do Rio de Janeiro. Palco de manifestações históricas, a avenida está acostumada às grandes multidões, mas mesmo assim os números do grupo impressionam.
Na última quarta-feira, dia 17, a passeata contra a divisão dos royalties do petróleo, por exemplo, que aconteceu exatamente na mesma avenida, reuniu cerca de 150 mil pessoas. Fez barulho suficiente para influir em decisões em Brasília, mas o número ainda é cerca de um terço do que o grupo de percussão consegue agregar em seus desfiles de rua.
Pedro Luís, um dos fundadores do Monobloco, concedeu uma entrevista ao iG, na qual fala da trajetória do grupo surgido a partir de uma oficina de percussão e que agora completa 10 anos de estrada. “A intenção era montar um bloco de carnaval a partir do nosso grupo de percussão. Monobloco é uma banda de baile, com instrumental do samba a serviço de toda música brasileira. A gente vai testando nos shows e vê o que funciona”, diz.
Para marcar a data, eles lançam pacote com o primeiro DVD e também o CD “Monobloco 10” (Universal Music), gravado ao vivo no ano passado. No repertório, músicas que não faltam a nenhum dos shows do grupo. Desde o forró “Isso aqui tá bom demais”, de Dominguinhos, ao pop rock “Alagados”, dos Paralamas. Além das carioquices de Tim Maia, Cazuza, Jorge Ben e de “Peguei um Ita no Norte”, samba-enredo mais conhecido como “Explode Coração”, que deu ao Salgueiro o título do carnaval de 1993.
O que hoje é um dos símbolos do cenário musical carioca surgiu, na verdade, em São Paulo. Mais precisamente no bairro de Vila Mariana, onde Pedro Luís, Mário Moura, C.A. Ferrari, Sidon Silva e Celso Alvim administravam uma oficina de percussão no SESC-SP. “Não faço a menor idéia de como seríamos se tivéssemos permanecido em São Paulo”, diz o músico. A seguir, a entrevista com Pedro Luis, que apresenta o show de lançamento do CD e DVD no Vivo Rio dia 16 de abril, com os outros 18 músicos da banda.
| Isac Luz |
iG: Como explica o sucesso do Monobloco muito além dos dias de carnaval?
PEDRO: Só foi possível alcançar esta magnitude depois de 10 anos de carreira, devido ao empreendimento coletivo. Tudo começou como uma oficina de percussão, em São Paulo. Era uma experiência esporádica, vinculada ao show de ‘A Parede’. Trouxemos logo o projeto para o Rio e amigos foram se agregando para serem colaboradores da iniciativa musical.
iG: De onde surgiu o nome “Monobloco”?
PEDRO: O nome “Monobloco” é um conceito do tipo de música que fazemos. Cada ritmista com um instrumento, tocando em ‘mono’, ou seja, formando todos um bloco único de som, ou um ‘monobloco’. A intenção era montar um bloco de carnaval a partir do nosso grupo de percussão. Depois do sucesso inicial, selecionamos uns 30 batuqueiros, entre profissionais e alunos, e criamos um bloco-show.
iG: Como foi a transição de São Paulo para o Rio?
PEDRO: A experiência em São Paulo durou uma semana. Logo viemos para o Rio, com o apoio da prefeitura. Não tem nada a ver com São Paulo. Não sei, não faço a menor idéia de como seriamos se tivéssemos permanecido em São Paulo. O Rio tem vocação para o carnaval de rua, é uma trajetória diferente.
| Isac Luz |
iG: Os chamados “blocos-show” são uma tendência musical?
PEDRO: Sim, mas apenas os blocos formados por músicos mesmo. É o que deu um status de refinamento musical. Não estou falando que isso é melhor ou pior. Não sou contra os blocos despretensiosos, os “blocos sujos”, não importa isso. O diferencial, o que surgiu nos anos 2000, foi um fenômeno de blocos criados por músicos. É uma maneira de profissionalizar os blocos.
iG: Do forró “Isso aqui tá bom demais”, de Dominguinhos, ao pop-rock “Alagados”, dos Paralamas. Como chegar a esta junção de estilos tão diferentes?
PEDRO: A grande estrela no Monobloco é o repertório, e de que forma ele é tratado. As pessoas se identificam muito com as músicas que tocamos. Tudo que está no DVD veio de experimentos. Monobloco é uma banda de baile, com instrumental do samba a serviço de toda música brasileira. A gente vai testando nos shows e vê o que funciona.
iG: O que o Monobloco não tocaria de jeito algum?
PEDRO: Música ruim... Mas não vou citar nomes, porque não acho simpático com os colegas. Hermeto Pascoal fala uma frase ótima: “Não existe musica brasileira boa ou ruim. Existe música ruim em todos os gêneros”. Já o contrário, entre os imperdíveis, Jorge Ben e Tim Maia são clássicos, não pode faltar em nenhuma apresentação. O repertório nacional é tão generoso. Mas o Monobloco não tem muito de reflexão...
| | iG: Por quê?
PEDRO: Prezamos por uma festa de paz. Arrastamos 350 mil, 400 mil pessoas em paz. Não temos um gênero fechado. Temos sim um comprometimento social. Mas mais na conversa, do que no texto da música. A preocupação com o social está ligada na questão do coletivo, no fato de ter tanta gente junto, se divertindo sem problemas.
iG: Bandas muito menores têm problemas entre os integrantes. Como manter a harmonia entre 19 músicos?
PEDRO: Atritos e divergências sempre existem. A gente cuida para que isso não fique maior do que a vontade de cantar. Estão todos no palco para se divertir, felizes, cantando, zoando. A comunicação com a plateia é permanente, precisamos positivar o coletivo.
iG: Como é a parceria com a sua mulher, a cantora Roberta Sá?
PEDRO: Nossa parceria começou musicalmente, na verdade. Tudo começou aí. Ela me pediu uma canção e eu fiz “Braseiro”, que deu título ao CD dela. A gente é casado, mas tem ascendência sobre o trabalho um do outro. A gente gosta de ouvir a opinião, de sugerir, de se proteger, de observar... A gente gosta das mesmas coisas, então tudo fica mais fácil.
Divulgação |
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Desfile do Monobloco no carnaval deste ano, no Rio