“Pra Vender”, álbum de estreia do cantor e instrumentista Cauê, é convite para adentrar crises modernas com humor
No supermercado, entre pacotes de bolachas, smartphones e caixas de leite, Cauê procura por um hit. Crescendo num ambiente musical e tendo formação em música popular, o artista questiona os rótulos e fórmulas de sucesso, a gana por dinheiro e poder e as muitas necessidades da contemporaneidade em Pra vender, seu álbum de estreia com produção assinada pelo camaleônico Rafael Castro.
Cauê passou um tempo - e ainda passa - tocando nas bandas de outros músicos da cena independente, como André Whoong (a canção “Eu Vou Parar de Beber” é uma parceria de André e Cauê) e Sara Não Tem Nome. Em “Pra vender”, ele fala sobre dinheiro, tecnologia e os dilemas oriundos de ambos. Não de maneira fria e dura simplesmente: são personagens que tem tesão na grana, são máquinas ou modas passadas - como versa a narrativa da faixa Inútil, que já ganhou videoclipe, da relação direta entre boletos e insônia e sobre as pressões do mercado musical para que uma composição seja um sucesso - ou seriam as pressões sociais (e virtuais) para que a vida seja um sucesso?
“Com uma composição afiada, por vezes irônica, noutras com honestidade sem tamanho, Cauê é o retrato de um caos emocional dividido em nove canções.” (Pedro Antunes, Estadão)
Em músicas como Igual Vocês, co escrita com Rafael Castro, Cauê fala de um felicidade cenográfica, uma alegria feita de plástico. Esse desajuste entre realidade e ideal de felicidade, regado sempre à ironia e bom humor, é recorrente no álbum. A faixa Psicanalista, por exemplo, aborda uma personagem cansada da exclusão e que está disposta a tudo para se enquadrar. Não se trata, entretanto, de um álbum monotemático. Cauê também aborda o amor em suas canções: não um amor adolescente, meloso e desesperado, mas o difícil sentimento que emudece, como mostra a faixa “Mudo”, que conta com a participação de Maurício Pereira.
Quieto, parado, feito um tarado.
Eu travo. Juro.
Eu tento. Muito.
Espera… que eu já vou falar.
As gravações foram feitas em Lençóis Paulista, na casa do multi instrumentista Rafael Castro, figura conhecida da cena de música independente - tem 10 discos lançados e, nos últimos anos, foi responsável pela produção musical de artistas como Primos distantes, Malli e Eristhal Luz. Os violinos foram gravados por Tamiris Soler, saxofone por Filipe Nader, trompete por Amilcar Rodrigues e backing vocals por Luna França. Ao vivo, “Pra vender” tem Cauê na voz e guitarra, Leonardo Sogabe na guitarra e nos teclados, Rafael Castro na bateria e Pedro Serapicos no baixo.